domingo, 31 de outubro de 2010

O Esoterismo nas Ruas de Lisboa - I

O SIMBOLISMO DA LISBOA RECONSTRUIDA



Após o devastador terremoto de 1755 em Lisboa, o rei D. José I e o seu Ministro da Guerra e futuro Primeiro–Ministro de Portugal, Marquês de Pombal tomaram medidas imediatas para que a cidade renascesse novamente. Contrataram assim um considerável número de arquitectos e engenheiros, que em menos de um ano fizeram o “milagre” de transformar Lisboa numa cidade sem ruínas decorrendo ainda os trabalhos de reedficação já bastante adiantados. O rei desejava uma cidade nova e ordenada e assim, grandes praças e avenidas largas e rectilíneas marcaram a planta da nova cidade.

O novo centro, hoje conhecido por Baixa Pombalina é uma das zonas nobres da cidade. São os primeiros edifícios mundiais a serem construídos com protecções anti-sísmica, que foram testadas em modelos de madeira à medida que as tropas marchavam ao seu redor testando assim a sua resistência (gaiola pombalina).

Contúdo, toda esta grandiosa obra “escondia” algo mais. Hoje, temos uma Lisboa marcada por um sistema simbólico ligados ao Esoterismo, à maçonaria, à alquimia, à mitologia, etc.Temos uma Lisboa povoada por estátuas e obeliscos, por altos e baixos relevos, por azulejos que nos contam histórias maravilhosas, que nos falam de mistérios inimagináveis e que de uma forma ou de outra nos sugerem o mito, o sonho da Lisboa do Quinto Império.


O Taro na Arquitectura Lisboeta

"...quem souber ler nos arcanos do Tarot pode decifrar no Terreiro Pombalino a história secreta de Portugal."


E é neste contexto que vimos encontrar o Tarot representado na arquitectura pombalina da Praça do Comércio e mais tarde (1870) na Praça D. Pedro IV (Rossio). No livro “Jardins Secrtetos de Lisboa” de Manuela Gonzaga, encontra-se um pequeno trecho sobre o assunto:

(…)«A estátua de D.Pedro do Rossio equivale ao mundus, o ponto axial, centro para onde convergem todas as direcções da cidade, e porque não? do País, já que Lisboa é capital. Aqui o temos, sobre este falo erecto, apadrinhado pelos guardiães das quatro direcções universais, os quatro naipes do tarô, paus, espadas, copas e taças. No cristianismo, são conhecidos como Rafael, Michael, Ariel e Gabriel.»
Palavras de Victor Adrião, historiador e outsider da cultura, com dezenas de livros em edição de autor, apaixonado por estas matérias de segredo.

E rodeando a estátua em passadas largas, vai indicando, naipe a naipe, guardião por guardião: taças, ou copas, a apontar a Rua de Santo Antão, o Anacoreta do Deserto "a qual inclina 17 graus para direita». Ouros, indicando a gare do Rossio, "o caminho alquímico, o ouro vivo, a pedra filosofal, onde está a Estátua do Encoberto, aquele que cavalga o cavalo branco, o Avatar, o Cristo Aquário, o Senhor do Quinto Império". Paus, ou báculo, a vara divinatória que indica o "Carmo, o lugar onde surgiu o culto matriarcal à mãe divina, o convento onde repousa Frei Nuno de Santa Maria, D.Nuno Álvares Pereira. Um convento que a tradição associa a mutações alquímicas, e onde se pode ver, numa lápide, a imagem alegórica do alquimista trabalhando debaixo da terra". Finalmente, espadas:

«A espada da lei e da virtude, a que premeia e salva, a que protege ou castiga, que aponta em direcção à Sé Patriarcal de Lisboa, a quinta catedral gralística do ocidente, por onde cerca do ano 985 a Taça do Santo Graal passou e ficou até finais do século XII.» – diz ele.

O autor ainda insiste:

«Para onde olha D. Pedro, o Imperador do Brasil? Em direcção ao Cais das Colunas, onde diz a tradição, cantada e prosada por Pessoa, para não falar de Sampaio Bruno, António Sérgio, e outros, haverá de desembarcar, alegoricamente falando, o Encoberto. O salvador das nações. Ou como diz a profecia de Sintra: "quem nasce em Portugal é por missão ou castigo.". Seja por missão.»

Portugal, País sob o número 17, o arcano da Estrela, astrologicamente do signo Peixes, regido por Vénus e Júpiter, que por sua vez tem na águia o seu símbolo supremo. É essa que encontramos no cruzamento da Rua de São Nicolau com a Rua Augusta.(…)

(…)Depois, Ouro, Prata, Augusta, nomes de ruas que evocam a terminologia alquímica, cujo desfecho se encontra na Praça dos Arcos. 22 Arcanos maiores, e os restantes são os 56 arcanos menores. É o Livro de Tot, o Tarô egípcio, a céu aberto, diante do Cais das Colunas. Como se chamava a passagem pelos claustros? Não eram «os passos perdidos"? Perdidos para o profano, achados para o iniciado que chega ao fim adquirindo o conhecimento?(…)


(…) É passear no Terreiro do Paço, concebido de acordo com a numerologia das lâminas do Tarô. (…)

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Outro Grande historiador, o Dr. Olímpio Gonçalves da Comunidade Portuguesa de Eubiose, já se referia a esta questão em 1982 com a publicação, na revista oficial da CPE “Graal”, do artigo “Lisboa à Luz dos seus Arcanos” do qual deixamos aqui um excerto:


"Lisboa, como todas as cidades de sete colinas, é considerada pela Tradição uma urbe sagrada.
Na fisionomia do seu quotidiano, no silêncio ou no bulício do seu dia-a-dia nas ruas e nas praças, inscreve-se na perenidade do seu rosto a secreta história dos lusos, o seu presente, o devir da sua grande missão diante do Mundo.

A sua praça maior, vestíbulo de entrada para a metrópole mais occidental da Europa e de saída milenar para os mares oceanos, propõe-nos, desde logo, a decifração dos enigmas que determinam as gestas deste povo de marinheiros, Pelágios ou homens do mar, e das suas reminiscências atlantes.
O Terreiro do Paço, na disposição linear do seu talhe, no alinhamento das suas artérias, no ritmo geométrico da sua arcaria é a lâmpada de Aladin que franqueia a porta que nos conduz à gruta subterrânea, onde jazem os maravilhosos tesouros escondidos, até aqui aos olhares profanos.

A Praça dos Arcos é o átrio que conduz ao santuário das sete Colinas, o Templo da Sabedoria.
É como um enorme livro de pedra onde a mensagem, embora críptica, pode ser lida e entendida, desde que interrogada na sagrada linguagem dos números e dos símbolos herméticos dos Arcanos de Thot.
O Livro de Thot, mais conhecido como Tarot é, como se sabe, constituído por 78 lâminas, originalmente de ouro fino, pertencendo 22 lâminas aos Arcanos Maiores, os esotéricos, e as restantes 56 aos chamados Arcanos Menores ou exotéricos.

Os 22 arcanos maiores, como o próprio nome indica, dão-nos a representação arcânica, arquetípica, de tudo quanto se pode conceber, de tudo quanto existe. Aplicando estes ideogramas simbólicos do Tarot e estabelecendo as correlações entre os 22 arcanos da série, segundo os cânones, eles revelam-nos as incógnitas dos mais complexos problemas.

Se observarmos, sob o ponto de vista estético, o Terreiro do Paço, logo verificamos que a expressão preponderante é a sua vasta, a sua profusa arcaria. Existe uma intencionalidade na disposição muito particular desses elementos que ultrapassa, sem dúvida, a simples função estrutural da sua arquitectura.
Os edifícios laterais contêm 28 arcos, cada um, cuja soma é de 56 arcos, o que corresponde ao número de lâminas dos arcanos menores.

Na fachada principal, entre as ruas do Ouro e da Prata, contamos, por outro lado, 22 arcos, 11 em cada direcção, a partir da Rua Augusta.
Ora, 22 arcos correspondem exactamente ao número de lâminas dos Arcanos Maiores, os arcanos iniciáticos.

Se aplicarmos a cada arco o arcano que lhe corresponde, possuímos a chave interpretativa de um ciclo completo de manifestação: relativamente aos 56 arcanos, a manifestação profana, quanto aos 22 arcos frontais, entre as ruas do Ouro e da Prata, a realização oculta.

Na verdade, quem souber ler nos arcanos do Tarot pode decifrar no Terreiro Pombalino a história secreta de Portugal."

Acontece que, na presciência das coisas, a urbanização pombalina inscreve a sua mensagem silenciosa numa síntese final dos 22 arcanos, que nos é dada pelas lâminas 18, 19 e 21. Porquê?

Porque as principais artérias que partem do Terreiro do Paço são: A Rua Augusta, a Rua do Ouro e a Rua da Prata.

Quando dizemos artérias, aplicamos o termo próprio, pois é disso que se trata. As ruas do Ouro e da Prata e a Rua Augusta representam o caduceu de Hermes, ou de Thot se quiserem, e como é sabido, o caduceu compõe-se duma coluna central, em torno da qual sobem duas serpentes, uma dourada e outra prateada. Respectivamente, uma solar e outra lunar.

Estas serpentes representam e são as artérias pela qual flui a energia serpentínea vital, desdobrada nos seus dois aspectos complementares, lunar, frio e passivo e solar, activo e quente.

Se nos lembrarmos que, na simbólica tradicional, o ouro expressa o Sol e a prata a Lua, torna-se claro que a Rua do Ouro corresponde ao aspecto solar do caduceu, a Rua da Prata ao lunar e que finalmente, a Rua Augusta simboliza o bastão central, O CADUCEU DE MERCURIO, canal de fusão e síntese destas duas forças polares, Símbolo que guarda todos os Mistérios Alquimicos, e Iniciáticos do Esoterismo.

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